PACIENTE DA HEMODIÁLISE DA SANTA CASA É APROVADO EM CURSO DE ENGENHARIA NA UESC
A vida de João Victor Souza Almeida, de 22 anos, é marcada por entradas e saídas nos hospitais por causa da síndrome Prune Belly. A doença congênita rara foi descoberta quando o itabunense tinha cinco anos de idade e começou a fazer um tratamento conservador. Um período marcado por rejeição a medicamentos e por infecções urinárias. Em janeiro de 2014, quando rins pararam de funcionar, ele começou a fazer sessões de hemodiálise.
A doença rara tem causado uma série de outras complicações de saúde ao estudante João Victor Souza, que faz tratamento na Unidade de Hemodiálise da Santa Casa de Itabuna. Mas as constantes internações não foram capazes de interromper o sonho do jovem, que cursou o ensino médio no Paraná, no período em que morou com a mãe. Ao retornar para Itabuna, ele começou a se preparar para as provas do Exame Nacional de Enino Médio (Enem).
No período em que estava em melhores condições físicas, João Victor Souza dividiu o tempo entre as sessões de hemodiálise e os estudos em casa. Como precisava do silêncio para assistir aos vídeos gratuitos no YouTube e entender o conteúdo, o jovem estudava das 22h às 2 da madrugada. Acordava às 5h para dirigir-se à Unidade de Hemodiálise. Para compensar, ele acabava dormindo durante o tratamento. “Estudava quando não estava como muitas dores e outros incômodos gerados pelo tratamento”, recorda-se.
INTERNAÇÕES ANTES DAS PROVAS DO ENEM
O ano de 2022 foi ainda mais complicado para o jovem que precisou ser submetido a uma cirurgia e ficou internado, pelo menos, seis vezes. Muitas vezes recebeu alta e teve de retornar a um leito de hospital. “Inclusive em agosto daquele ano eu sofri uma sobrecarga no pulmão. O órgão encheu de líquido e meu coração descompensou. Fiquei no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) por 4 dias e outros 11 em enfermaria. Antes disso, tinha sido internado outras três vezes”, relata estudante João Victor Souza.
Quando ainda estava se recuperando, nos dias 13 e 20 de novembro de 2022, logo depois de receber uma das altas médicas, reuniu forças para fazer as provas do Enem. O 28 de fevereiro é considerado por João Victor Souza como uma data histórica em sua vida. Foi nesta data em que o nome do jovem estava na lista dos 40 aprovados pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU), do Ministério da Educação. Aprovado para o curso de Engenharia Mecânica na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
ESTAVA INTERNADO
João Victor Souza recebeu a notícia da aprovação em leito do Hospital Calixto Midlej Filho, pois tinha dado entrada para mais uma internação. Na terça-feira (14), bem empolgado, foi para a primeira aula na Uesc, onde prende concluir a graduação nos próximos cinco anos. “Será desafiador cursar engenharia e seguir com o tratamento. Espero ficar livre das internações nesse período”, diz esperançoso.
João Victor Souza faz história não somente por enfrentar as dores causadas pela síndrome Prune Belly e a batalha diária pela vida, mas também porque se tornou o primeiro da família Souza a entrar para universidade. Ele é filho de um caminhoneiro e uma confeiteira, e tem outros cinco irmãos.
A síndrome Prune Belly é uma doença congênita caracterizada por ausência da parede abdominal, associada à não-descida dos testículos ao saco escrotal e uma expansão anormal da bexiga, que pode gerar anormalidades no trato urinário e problemas renais.
PACIENTES RENAIS CRÔNICOS E AGUDOS
O nefrologista da Santa Casa de Itabuna, Renato Costa, confirma que o caso de João Victor Souza é muito raro. O médico especialista explica que, na maioria dos casos, as doenças renais são causadas por descuido ou falta de informações corretas para as pessoas que acabam numa máquina de hemodiálise. “Ajudam muito na prevenção das doenças ações como alimentação saudável e atividades físicas. Por outro lado, deve-se evitar ainda o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo”. Mas este não é o caso do jovem.
O nefrologista detalha ainda que na unidade de Hemodiálise da Santa Casa de Itabuna são ofertados tratamentos tanto aos pacientes renais crônicos, quanto para os renais agudos (tipo uma pane, em que o órgão para subitamente de funcionar). Isso ocorreu muito durante a pandemia da Covid-19. Nos dois casos são disponibilizadas a terapia substitutiva renal, as sessões de hemodiálise.